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Mar de Morro
2018 | 19

Fotografias realizadas em negativos de 6x7 cm,  impressas por pigmentos minerais em papel de algodão

Dimensões:

120x150 cm, tiragem de 3

40x50 cm, tiragem de 5

Olhe bem as montanhas...

(Manfredo de Souza neto)

...Porque elas estão acabando

(Carlos Drummond de Andrade)

No deslocamento diário pela região onde moro, em constante construção, registro marcas deixadas por montes de areia estocada pelos pedreiros, encostadas às suas paredes em processo, e retiradas à medida em que avançam em suas tarefas construtivas. São rastros de montes, que ficaram gravados às novas paredes, depois de algum tempo estocados em contato com as mesmas.

 

Passo também por enormes minas de ferro, que já fazem parte da paisagem mineira, mas que transformam serras vizinhas em escadas descomunais, que descem vagarosas até desaparecerem no horizonte ondulado. 

 

Penso em Drummond, em Itabira, no Pico do Cauê, no Pico do Itabirito, e em inúmeros outros morros, que desaparecem da paisagem para manter nossa sina colonialista de fonte de recursos primários da metrópole.­­

 

“Olhe bem as montanhas...” Estampou o artista Manfredo de Souza Neto em uma obra/adesivo em 1974. Drummond o homenageia, ao completá-lo em crônica no ano seguinte: “... Porque elas estão acabando.”.

O Mar de Morro, formação geológica da região do quadrilátero ferrífero, tem suas “ondas” escavadas à vista de todos, para que seus minerais sejam exportados sem maiores explicações, impostos ou royalties. Seus restos, guardados nas infames barragens de rejeitos, são o cimento que soterra a natureza, cultura e esperança de um mundo mais justo.

 

Com fotografias sem profundidade, volume ou fato direto, lanço meu grito pelas serras e morros de Minas Gerais, crio imagens pictóricas que me parecem mais palatáveis que as imagens que poderia criar a partir das paredes das minas, que nada mais são que restos da geografia mineira desmontada. 

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