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Misteriosa Pintura Mineira

"... Nosso desenho é em grande parte simbólico e,

sem o conhecimento de seus valores convencionais,

não se pode entendê-lo."

Darcy Ribeiro, Diários Índios, 1996

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A Arte rupestre pré-histórica e o ambiente em que ela se encontra, constitui importante patrimônio a ser registrado, estudado e preservado, para a apreciação e utilização das gerações vindouras, de estudiosos e da sociedade como um todo, como potente instrumento de inspiração e entendimento de ancestralidade e origem. Elementos fundamentais para a formação de uma identidade cultural própria e, base indispensável para o desenvolvimento de uma nação independente e culturalmente relevante.

Por arte rupestre pré-histórica entendem-se todas as expressões gráficas deixadas pelo homem, utilizando como suporte uma superfície rochosa. A palavra rupestre tem origem no latim, onde rupes-is significa rochedo.

Nas cavernas e abrigos calcários de Minas Gerais, com os estudos de Peter Lund em meados do século XIX, em Lagoa Santa, nasceram a arqueologia e a paleontologia brasileiras. Os diversos e abrigos das regiões cársticas do estado, circundados pela riqueza natural dos ambientes de lagoas, matas e cerrado, atraíram grupos de caçadores-coletores que durante milênios aproveitaram-se da proteção das grutas e da fartura de alimentos na proximidades de seus abrigos para caçar, fazer seus rituais, enterrar seus mortos e registrar suas experiências diretamente nas superfícies rochosas.

A abundância sítios arqueológicos preservados, riquíssimos do ponto de vista de registros rupestres, faz do estado um dos principais centros de estudos da pré-história brasileira.

Este projeto é fruto da necessidade de preservação e difusão das manifestações artísticas de nossos ancestrais e da carência de conhecimento necessário para entendermos as características e particularidades de nossa origem, e usa estas manifestações, próprias e originais de nossa cultura como base para a elaboração de um trabalho de fotografia como arte contemporânea. Busca aliar o registro fotográfico à expressão pessoal. Levar à cena da arte contemporânea um convite à reflexão sobre questão da ancestralidade e origem do povo brasileiro. Lançar um olhar contemporâneo sobre a expressão ancestral calcada na rocha por misteriosos habitantes do território, que deixaram registros de uma época, e mentalidade, ainda livres da colonização e da linguagem do colonizador, que a hoje predomina em nossas expressões culturais e artísticas.

A arte rupestre revela a capacidade humana de abstração, síntese e idealização. Descreve atividades econômicas e sociais, ideias, crenças e práticas, Proporciona um modelo único de compreensão da vida intelectual e cultural dos povos pré-históricos. Muito antes da invenção da escrita, a arte rupestre documenta o mais antigo testemunho da criatividade imaginativa e artística humana. Constitui um dos mais significativos aspectos do patrimônio comum da humanidade (ANATI, 1993).

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Proponho com este ensaio com o intuito de utilizar matéria local para minha expressão artística. Voltar o olhar para expressões próprias do território e de seus habitantes originários. Uma forma de buscar uma linguagem de arte contemporânea de pretensão genuinamente brasileira, e chamar o público a refletir sobre a importância de buscar uma arte contra-colonial.

O Brasil é um enorme museu a céu aberto, com milhares de sítios arqueológicos e diversos estilos de pinturas rupestres de diferentes épocas. Com o prazo de um ano, e os valores destinados ao edital, nem de forma bastante acelerada e resumida poderíamos percorrer as principais regiões, e fotografar exemplos de cada estilo. Em minha trajetória, tenho privilegiado trabalhos de maior profundidade, realizados com tempo e possibilidades de retorno, para aprimoramento e aprofundamento nos assuntos abordados. Proponho estas duas regiões de Minas Gerais, próximas de minha própria residência, como universo a ser abordado, pela riqueza e importância de seus sítios e operacionalidade. Outro fator decisivo para a escolha desta região como base desta metonímia que pretendo realizar, é meu histórico pessoal. Minha origem mineira, a homenagem à minha mãe, que lutou pelo conhecimento preservação de alguns destes incríveis sítios do estado de Minas Gerais.

Este projeto tem também o objetivo de levar imagens da iconografia destes dois importantes museus a céu aberto para o ambiente escolar. Proponho, para a direção da escola, a participação em atividades extra curriculares, como projeção de imagens realizadas durante o projeto na E.E.D. Francisca Josina, e  também a participação em visitas com alunos a atrativos naturais e culturais da região, como os sítios arqueológicos trabalhados no projeto, onde poderemos demonstrar a produção de fotografias das pinturas e técnicas envolvidas. Inserida no contexto do Cerrado, a direção da escola prioriza o entendimento dos alunos sobre este ambiente e suas particularidades.

Pedro David, 2023

 

Reprodução dos calques dos painéis do Grande Abrigo de Santana do Riacho.

Arquivos do Museu de História Natural - UFMG

Volume XVIII/XIV - 1992/1993

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